Chamada, leitura de listas, escrita e brincadeiras: explore todo o potencial dos nomes na alfabetização
As atividades com o sistema de escrita na Educação Infantil precisam ser diversificadas e oferecer novos desafios
às crianças, potencializando seu aprendizado (abaixo, veja uma lista
com oito atividades para turmas de 4 e 5 anos). Diana Grunfeld,
especialista em didática da alfabetização e membro da equipe de
coordenação da Rede Latino-americana de Alfabetização, explica que isso é
essencial para que tanto o aspecto figural (forma e direção das letras)
como o conceitual (combinação das letras) sejam desenvolvidos. Por essa
razão, o trabalho deve variar entre situações de leitura e de escrita.
As primeiras são essenciais para ajudar as crianças a perceber semelhanças e diferenças
entre os nomes, como quantidade e disposição das letras e sua relação
com os sons. Com base nesse modelo estável, elas conseguem estabelecer
comparações para tentar ler outras palavras. “Em contato com o nome
próprio, as crianças notam a regularidade da forma dele e entendem que a
escrita fixa a língua falada. Toda vez que elas reencontram seu nome,
percebem que ele tem sempre as mesmas letras. Essa estabilidade do sistema é muito importante, porque é um ótimo campo de reflexão e aprendizagem”, diz Beatriz Gouveia.
As situações de escrita apresentam outros desafios aos pequenos, como a grafia
das letras, uma por uma, até construir a palavra completa. Essa fase
começa com a cópia do modelo com o nome, que fornece informações sobre a
forma convencional das letras e a direcionalidade da escrita.
Oito atividades para as turmas de 4 e 5 anos:
1. Apresentação dos nomes
Desenvolvimento: Depois de produzir os crachás com o nome das crianças, o
professor deve apresentar um por um a toda a turma. Dessa forma, os
pequenos passam a ter contato com a escrita convencional do nome delas e
também do de seus colegas. Nesse dia, o docente também pode pedir às
crianças para perguntar a seus pais por que eles escolheram esse nome e,
em sala, compartilhar com os amigos.
O que as crianças aprendem: Com as mesmas características gráficas (tamanho, cor, fonte e
alinhamento), os cartões levam as crianças a prestar atenção apenas nas
letras que os compõem, na quantidade delas e na ordem em que estão
dispostas. Assim, elas desenvolvem critérios para reconhecer semelhanças
e diferenças entre as palavras. A apresentação da história do nome
também permite o desenvolvimento de uma discussão sobre identidade, na
qual as crianças refletem sobre a função social dessa palavra.
2. Chamada
Desenvolvimento: Por que não usar esse momento para desenvolver uma situação
didática de leitura de nomes? Para que os desafios variem, é importante
pensar em diversas formas de realizar a chamada. Uma delas é cantar
parlendas conhecidas pelas crianças, como “Quem foi que comeu pão na
casa do João”, e pedir que elas identifiquem o próprio crachá no meio da
roda. O professor pode aumentar a dificuldade propondo que o nome
identificado seja o de um colega. Outra possibilidade é encobrir parte
do nome e perguntar de quem pode ser aquele.
O que as crianças aprendem: A chamada trabalha, sobretudo, com a identificação dos nomes
pelas crianças. O desafio é que elas utilizem tudo o que já sabem para
diferenciar as palavras. Com o avanço dos pequenos, o professor pode
propor reflexões mais específicas, destacando apenas as letras iniciais e
finais, o tamanho dos nomes, a ordem das letras e suas combinações.
3. Brincadeiras
Desenvolvimento: Uma das brincadeiras mais comuns com as turmas de
Educação Infantil é o jogo da memória. Com as fotos e o nome das
crianças, o professor pode montar cartões, que ficam em uma mesa virados
para baixo. Para jogar, os pequenos devem virar dois a cada rodada e
associar a imagem ao nome do colega. Outra possibilidade é o faz de
conta de carteiro. Vestida com um colete e carregando uma bolsinha com
crachás com os nomes da turma, uma das crianças recebe o desafio de
entregar o cartão correspondente a cada colega.
O que as crianças aprendem: Brincar faz parte da rotina das crianças. Por isso, a
incorporação do nome próprio a atividades lúdicas na sala de aula é
interessante, desde que não tire toda a graça da brincadeira. Além de se
divertirem nas atividades exemplificadas acima, os pequenos precisam
reconhecer o próprio nome e também o dos colegas para poder brincar.
4. Comparação entre nomes parecidos
Desenvolvimento: O professor forma pequenos grupos e convida as crianças a
encontrar nomes que comecem ou terminem como o seu, como Rafael/Miguel,
Leonardo/Luiza e Maria Eduarda/Maria Clara. De conjunto em conjunto, o
docente questiona o que as palavras têm em comum e o que têm de
diferente, pedindo aos pequenos que justifiquem suas respostas.
O que as crianças aprendem: Analisar outros nomes com base no seu estimula as crianças a
refletir sobre semelhanças e diferenças entre as palavras de maneira
mais detalhada. Essa atividade abre grandes chances de eles também
memorizarem as especificidades da escrita do próprio nome e também do de
seus colegas. Os pequenos grupos possibilitam intervenções mais
pontuais do professor, que adequa os apontamentos aos saberes de cada
um.
5. Bingo de nomes
Desenvolvimento: A lógica do bingo de nomes é a mesma do jogo com números.
Cada criança recebe uma cartela feita pelo professor com alguns nomes da
turma (de quatro a oito). A cada rodada, o docente sorteia um e pede
que os pequenos o procurem no cartão. Após um tempo, escreve na lousa
para que ninguém esqueça quais já foram falados. A primeira criança que
conseguir identificar todos os nomes de sua cartela ganha a brincadeira.
Para aumentar o desafio da atividade, o professor pode escolher nomes
muito parecidos entre si.
O que as crianças aprendem: A atividade auxilia no reconhecimento do nome dos colegas.
Quanto mais semelhantes forem as palavras entre si, mais critérios de
comparação as crianças terão de estabelecer para poder identificar o que
foi sorteado.
6. Forca de nomes
Desenvolvimento: Depois de eleger o nome de uma das crianças da turma, o
professor pede que os pequenos digam as letras que eles acham que
compõem a palavra. Quando uma delas estiver correta, o docente a escreve
na lousa. Caso esteja errada, ele desenha uma parte do corpo do boneco
que está com a corda no pescoço.
O que as crianças aprendem: Diferentemente do bingo, que tem como objetivo desenvolver o
reconhecimento dos nomes por completo, a forca trabalha com a escrita do
nome sabendo quantas letras ele possui. Nessa atividade, as crianças
precisarão saber como cada uma delas se chama, antecipando o nome
possível.
7. Escrita de nomes
Desenvolvimento: Na Educação Infantil, as crianças costumam realizar diversas
atividades de desenho e pintura. Para diferenciar as produções de cada
uma, o professor costuma pedir à turma que nomeie todo trabalho que
fizer. Essa ação pode ser feita com base na cópia de um modelo ou sem
nenhum suporte, caso a criança já saiba escrevê-lo.
O que as crianças aprendem: A escrita do nome sempre deve ter um sentido, porque ninguém
costuma escrever uma palavra à toa várias vezes. Por isso, esse tipo de
atividade não pode ser visto como algo restrito à escola, mas como uma
ação comum na vida real – e nada mais corriqueiro do que identificar
aquilo que lhe pertence. Além de incentivar a reflexão sobre a função
social da escrita, atividades como essa permitem à criança treinar o
traçado das letras, sua posição e a direcionalidade da escrita
convencional, da esquerda para a direita.
8. Leitura e escrita de listas
Desenvolvimento: Depois de checar quem está na sala, o professor pode pedir
aos alunos que anotem no quadro o nome dos ausentes. A lista poderá ser
utilizada para a merendeira saber quanto de comida deverá fazer ou para
registrarem numa folha o nome de quem faltou. Outra possibilidade é
pedir às crianças que identifiquem na lista de chamada quais serão os
ajudantes do dia, que podem ser escolhidos pelo professor seguindo a
ordem alfabética.
O que as crianças aprendem: É preciso ter clareza sobre os propósitos dessas atividades.
Nas primeiras, as crianças são convidadas a reconhecer os nomes e a
compará-los. Dessa forma, elas podem observar a quantidade de letras nas
palavras, a ordem alfabética e refletir sobre a função desse gênero
textual, que destaca palavras de um mesmo grupo temático. Nas atividades
de escrita, as crianças desenvolvem a grafia e direcionalidade da
escrita durante a cópia.
A professora Maristela Ribeiro da Silva organizou no início do ano um
conjunto de atividades para realizar com sua turma de 4 anos na EMEI
Maria Alice Pasquarelli, em São José dos Campos, a 94 quilômetros de São
Paulo. “Planejei atividades nas quais o mote era fazer com que as
crianças passassem a reconhecer e produzir o próprio nome e, depois, o
nome dos colegas”, diz Maristela.
O trabalho começou com a produção de crachás com o nome das crianças,
que são usados em diversas situações. Uma delas é a chamada, que é feita
de maneira diferente a cada dia. Uma das formas, por exemplo, é pedir
que os pequenos procurem o seu cartão no meio da roda quando chamados.
Os crachás que sobram ajudam a turma a produzir uma lista dos colegas
que estão ausentes no dia. O cartão pode ter também utilidade nas
atividades de escrita: as crianças que ainda não sabem grafar a palavra
utilizam a ficha como modelo.
Em outras situações, Maristela estimula os alunos a identificar a letra
inicial dos nomes. “Em uma lista, coloquei os nomes em ordem alfabética e
perguntei aos pequenos com qual letra começava o primeiro da lista. Aos
poucos, eles começaram a identificar que era a letra A, de Ana, e assim
por diante”, diz. Com essa atividade, a professora tinha o objetivo de
fazê-los refletir sobre a importância da letra inicial para a ordenação
dos nomes.
Maristela pretende que, ao final do semestre, todos os alunos saibam
escrever o próprio nome e também o dos colegas. Mesmo assim, essas
palavras não desaparecerão da rotina em sala de aula, uma vez que os
pequenos continuarão identificando seus trabalhos e utilizando os nomes
como referência para ler ou escrever novas palavras.
Uma das atividades que a professora já realiza com esse objetivo é a
produção de uma lista dos brinquedos trazidos pela turma para a escola.
“Eu pergunto às crianças como é que se escreve carrinho. ‘É com o CA da
Carol’, elas respondem e escrevo na lousa. Em seguida pergunto qual é a
primeira letra desse nome. ‘É com C’, falam”, conta Maristela. Dessa
forma, as crianças começam a utilizar em diferentes contextos o que já
aprenderam sobre o sistema de escrita. “Isso vai ajudando-as a observar
que o nome não é um todo apenas, mas é composto de diferentes partes que
também existem em outras palavras”, explica Andréa Luize, coordenadora
do Núcleo de Práticas da Linguagem da Escola da Vila, em São Paulo.
Sala de aula alfabetizadora
Diferentemente do que se pensa, a escola não é a porta de entrada para o
aprendizado do sistema de escrita. Em casa e em outros ambientes, as
crianças ficam expostas desde muito cedo a diversas práticas de leitura e
escrita, como bilhetes, correspondências, canções e histórias. Até
mesmo os pais chegam a ensinar os filhos algumas letras do alfabeto,
principalmente as do nome dele.
No entanto, é na escola que todo esse conhecimento é organizado e o
processo de aquisição da escrita é feito de forma sistemática e
significativa.
Para que esse trabalho seja efetivo, o professor deve propor situações
que levem as crianças a ler e escrever diariamente. Então, se a chamada
da turma é feita todos os dias, por que não expor uma lista com o nome
de todos os pequenos na parede da sala e recorrer a ela sempre que
necessário? Dessa forma, além de ser uma referência a qualquer momento,
os nomes ficam à disposição do professor para planejar diferentes
atividades.
Fonte: http://novaescola.org.br/nome-proprio/atividades.shtml
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